DOGMAS MARIANOS
3. IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA
Um dos dogmas da Igreja mais mal compreendidos hoje em dia é o da
Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria. Um dogma é uma verdade
de fé que deve ser crida por todo cristão (como a Triunidade de Deus,
a inerrância da Escritura, etc.). Assim, todo cristão deve crer na Imaculada
Conceição.
Mas o que significa “Imaculada Conceição”? Ao
contrário do que muitos pensam, não é o fato de Jesus ter nascido sem que Nossa
Senhora perdesse a virgindade; isso é a Virgindade Perpétua de Nossa Senhora,
não sua Imaculada Conceição. A Imaculada Conceição é o fato de nossa Senhora
ter sido concebida sem Pecado Original, não tendo jamais pecado nem tido
vontade de pecar.
O Pecado Original é aquilo que herdamos de nossos pais, e eles de
seus pais, etc., até Adão. Desde que Adão e Eva escolheram dizer “não” a Deus,
pecando por soberba ao quererem ser deuses no lugar de Deus, seus descendentes
carregam esta “doença genética”, transmitida de pai para filho. Os efeitos do
Pecado Original são: na alma a tendência a fazer o mal e a inimizade para com
Deus; no corpo a doença, velhice, e finalmente a morte. Nossa Senhora foi salva
no instante mesmo de sua concepção, no instante em que a alma criada por Deus
era infusa no embrião gerado naquele instante de maneira totalmente normal por
S. Joaquim e Sant’Ana, os pais da Santíssima Virgem. Ela foi preservada do
Pecado Original, sendo salva não da maneira comum (pelo Batismo), mas de
maneira tal que a preservou de cometer pecados ou sequer desejar cometê-los,
ficar jamais doente, etc.
Podemos comparar esta diferença a uma outra situação: se uma
pessoa cai em um poço e alguém vai e a tira de lá, esta pessoa foi “salva” pela
que a tirou. Se, porém, esta pessoa está caindo no poço, está à beira do poço
pronta para cair e alguém a segura com força e a puxa para fora, impedindo que
caia, podemos também dizer que ela foi “salva” por quem a puxou. Nossa Senhora
foi salva como quem é “salvo” de cair no poço, ao invés de ser salva como quem
já caiu dentro dele, sujou-se todo e se machucou (o que é o nosso caso).
Isto era necessário, por uma razão muito simples: Deus a preparou,
a “planejou”, por assim dizer, desde a queda de Adão para carregar a Deus em
seu ventre (Gn 3,15). Seu Filho não era um menino qualquer que depois “virou
Deus”; Ele era, Ele é Deus desde sempre. A partir de Sua concepção na Virgem
Maria pelo Espírito Santo (Lc 1,31), Ele tomou a nossa natureza humana, sem
perder a Sua natureza divina, e a segunda Pessoa da Santíssima Trindade fez-se
homem; “O Verbo se fez Carne, e habitou entre nós” (Jo 1,14).
Como já vimos, o Pecado Original é transmitido de pai para filho
(ou de mãe para filho…). Jesus, sendo Deus, não poderia jamais ser ao mesmo
tempo Seu próprio inimigo, ser ao mesmo tempo alguém que, como nos explica São
Paulo, é escravo do demônio (Hb 2,14-15) , por tender ao pecado em virtude das
consequências do Pecado Original. “Ora”, poderia dizer alguém que nega a
Imaculada Conceição, “mas Jesus poderia transformar o Seu próprio corpo e Sua
própria alma para arrancar destes o Pecado Original, ou simplesmente impedir
que ele fosse transmitido”. Isso, porém, não faria sentido: Em Ex 25,10-22, nós
vemos o cuidado de Deus nas instruções para a preparação da Arca da Aliança,
destinada a portar as Tábuas onde Deus escreveu a Lei dada a Moisés (Dt
10,1-2). Para portar a Palavra de Deus, Ele manda que os homens façam uma arca
de maneira muitíssimo cuidadosa e detalhada, de ouro e madeira de acácia,
materiais nobres e puros. Esta Arca não pode sequer ser tocada por mãos
impuras! Em 2Sm 6,6-7, vemos como Oza, filho de Abinadab, percebe que os bois
que carregavam o carro da Arca tropeçaram e a apara com as mãos; ele cai morto,
fulminado no ato! O que Deus não faria então para preparar aquela que
portaria não uma criação de Deus (Sua Palavra), mas o próprio Senhor em seu
ventre, aquela cujo sangue alimentaria o Verbo feito Carne, cujo leite nutriria
a Deus feito homem? Se tocar a Arca que continha a Palavra bastava para matar
uma pessoa bem-intencionada, que queria apenas impedir que ela caísse ao chão e
se sujasse, será que Cristo poderia ser concebido e Se desenvolver em um útero
impuro e escravizado ao demônio pelo Pecado Original?!
Vemos como A Santíssima Virgem foi preservada do Pecado
Original também em Lc 1,28, quando o Anjo Gabriel chega a Nossa Senhora e a
saúda com as palavras “Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois
vós entre as mulheres“. Como alguém que fosse um escravo do demônio, alguém
que peca e tornará a pecar, poderia ser “cheia de graça”? Além disso, a reação
de Nossa Senhora também é muito diferente da reação, que pode ser vista no mesmo
capítulo, de Zacarias à chegada de um anjo: enquanto Nossa Senhora não se
assusta nem um pouquinho, e medita sobre as palavras que o anjo disse, Zacarias
fica perturbado e com medo antes mesmo do anjo falar. O que Zacarias faz não é
estranho; é essa a reação de todos os que, carregando em seu corpo e em sua
alma o Pecado Original, veem-se face-a-face com um anjo; podemos ver, por
exemplo, que esta é a mesmíssima reação que têm os pastores a quem o anjo
anuncia o nascimento de Cristo (Lc 2,9).
Alguns, para negar este dogma, dizem que Nossa Senhora não teria
cumprido (Lc 2,22) os rituais de purificação, que incluem uma oferenda pelo
pecado (Lv 12,2-8), caso fosse mesmo preservada do Pecado original por Deus.
Ora, o Evangelista nos diz que “foram concluídos os dias da purificação de
Maria segundo a Lei de Moisés”(Lc 2,22), não que ela tivesse realmente ficado
impura ou pecado (o pecado que precisava de um sacrifício para purificação é a
promessa inconsciente que toda mulher faz em meio às dores do parto: nunca mais
ter outro filho. Ora, a dor do parto é, como vemos em Gn 3,16, outra
consequência do Pecado Original). Nossa Senhora fez o sacrifício para
submeter-se à Lei, como Cristo o fez (Gl 4,4), apesar de não precisar (Cf. Mt
17,23-26): para não ser causa de escândalo (Mt 17,26) e dar exemplo de
obediência, para que saibamos que devemos obedecer à Lei de Cristo como Ele
obedeceu à de Moisés.
Outros dizem que a frase de São Paulo em Rm 3,23 (“todos pecaram”)
seria também aplicável à Santíssima Virgem, que teria assim pecado. Ora, se
assim fosse, Nosso Senhor Jesus Cristo também teria pecado… Além disso o mesmo
Apóstolo, na mesma Epístola, refere-se aos que não pecaram, em Rm 5,14. Muitos
outros exemplo podemos encontrar de uso desta expressão generalizante (“todos
pecaram”) sem que seja realmente todos, sem exceção: em Mt 4,24, diz-se que
“trouxeram-Lhe todos os que tinham algum mal”, mas dificilmente todos os
doentes da Síria teriam ido à Galiléia, passando por montanhas e desertos; em
Jo 12,19, diz-se que “todo o mundo vai após” Jesus; será que realmente todas as
pessoas, sem exceção, O seguem? Quem dera! Do mesmo modo, em Mt 3,5-6, vemos
que a gente de “toda a Judéia e toda a terra dos arredores do Jordão” ia ser
batizada por São João Batista; será que todos, inclusive Herodes, Rei da
Judéia, que depois o mandou matar, todos os fariseus e saduceus, todos, sem
exceção, foram ser batizados por São João? Será que “todo o povo” (Mt 27,25),
sem exceção, assumiu a responsabilidade da morte de Cristo? Será que “todo o
povo” que morava perto do mar (Mc 2,13) ou que vivia na Cesaréia de Filipe (Mc
9,14) foi ouvir a Cristo, sem ficar nem unzinho em casa? Dificilmente. Assim,
além da exceção já evidente de Cristo na expressão generalizante usada por São
Paulo em Rm 3,23 (“todos pecaram”), vemos que o uso desta palavra para
significar “a maioria”, ou “quase todos”, não é restrito de modo algum a esta
frase. O que podemos dizer então, senão o que disse o Anjo a Nossa Senhora?
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós
entre as mulheres…
Autor: Carlos Ramalhete
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por seu comentário. Nosso blog é atualizado diariamente. Volte sempre!