A maioria do povo eleito tinha uma ideia completamente errônea da
genuína missão do Messias. Vivendo num país pequenino e dominado pelos romanos,
ansiava pela vinda do SALVADOR que o viesse libertar do julgo estrangeiro.
Havia, porém, um pequeníssimo número de almas
privilegiadas, conhecedoras, através dos livros Sagrados, da
missão sofredora e redentora do MESSIAS, que os libertaria da escravidão do
demônio e dos pecados.
Entre essas almas santas, ocupava o primeiro lugar a Santíssima
Virgem de Nazaré. Escolhida desde a eternidade para MÃE do Senhor,
Imaculada desde a Sua Conceição e preparada, com a Plenitude de todas as Graças
e Dons do Divino ESPÍRITO SANTO, para ser digna Morada do Verbo Eterno, devia
conhecer, pelo menos em linhas gerais, o futuro do FILHO e o Seu próprio
futuro. Embora Seu conhecimento no Dia da Anunciação não fosse detalhado e
minucioso, contudo havia de ser suficiente para que o Seu Sim à Encarnação do
REDENTOR, fosse espontâneo, livre e consciente.
O Arcanjo São Gabriel Lhe oferece, em Nome de DEUS, para ser ELA a
MÃE do DEUS-MESSIAS prometido e REDENTOR do gênero humano: e Lhe pede Seu livre
consentimento. Neste momento DEUS LHE pede para ser a Mãe do
REDENTOR! SER MÃE do REDENTOR; porém, não consistia só em Concebê-Lo,
Gerá-Lo e Alimentá-Lo, mas também em Acompanhá-Lo, em perfeita
comunhão de sentimento e dores, até a completa consumação da Obra
Redentora.
Ao aceitar a oferta e pronunciar as palavras: “Eis aqui
a escrava do SENHOR, faça-se em MIM segundo a tua palavra”, MARIA
Santíssima aceita ser Mãe do REDENTOR e também todas as consequências
sofredoras que esta Sua posição central, nos mistérios da redenção humana, Lhe
há de trazer.
O VERBO Eterno ao assumir a natureza humana no Seio Castíssimo da
Virgem, dá o primeiro passo como REDENTOR do gênero humano, e, MARIA Santíssima
ao tornar-se, por Sua livre vontade, MÃE do SALVADOR, dá o primeiro
passo como Co-Redentora do gênero humano. Quando termina a Virgem
Santíssima as palavras do “Fiat”, o VERBO se faz Carne, entra
no mundo, e no mesmo instante faz a oferta inicial de toda a Sua vida,
dizendo: “Não quiseste sacrifício nem oblação mas ME formaste um
Corpo. Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não te agradam. Então EU disse:
Eis que venho (porque é de MIM que está escrito no rolo do livro), venho ó
DEUS, para fazer a TUA vontade. (Sal. 39,7 ss). (Hb.10,
5-7)
MÃE e FILHO, portanto, no momento da Encarnação se ligam
eternamente à Vontade soberana do PAI. Cumprir esta vontade à risca, eis o
programa de vida do FILHO e da MÃE. Mais tarde dirá CRISTO a Seus discípulos
que LHE ofereciam comida: “...Tenho um alimento para comer que não
conheceis... Meu alimento é fazer a Vontade d’Aquele que Me enviou, e cumprir a
Sua Obra”. (Jo. 4, 32-34)
Mesmo do alto do Calvário, cravado cruelmente à Cruz, moribundo,
entrega a Sua Alma ao PAI depois do “Consummatum est” “Tudo está
consumado” (Jo. 19,30), isto é, depois de ter verificado que a Vontade
de DEUS fora integralmente cumprida, desde o instante da Encarnação até ao
derradeiro momento da última gota de Sangue, do último suspiro. Assim também
ocorreu com a Santíssima Virgem.
O “Fiat” pronunciado no Dia da Anunciação, será o único e total
programa de Sua Vida. Sim, palavra singela, o “Fiat”, mas que significa e
exprime a mais absoluta entrega e sujeição de todo o Ser e viver da Virgem à
Vontade de DEUS. Sim, palavra humilde, o “Fiat”, mas que deu inicio à maior
Obra jamais realizada pelo próprio DEUS. Sim, palavra brevíssima, o “Fiat”, mas
que não o esquecerão nem o rolar dos séculos, nem o passar da eternidade. O
“Fiat” acompanhará sempre a Virgem Santíssima, num crescendo vertiginoso, até
alcançar o seu auge, na hora suprema da consumação do Sacrifício da Cruz.
Em relação ao Mistério da Anunciação, os santos padres e doutores
da Igreja frequentemente fazem a comparação entre Eva e MARIA e, chamam MARIA
Santíssima de Nova Eva, seguindo o exemplo de São Paulo que chama a CRISTO de
Novo Adão.
Santo Ireneu, séc. II, opondo MARIA a EVA, diz: “Assim
como por uma virgem desobediente foi o homem ferido, caiu e morreu, assim
também por meio de uma Virgem obediente à Palavra de DEUS, o homem recobrou a
vida. Era justo e necessário que Adão fosse restaurado em CRISTO, e que Eva
fosse restaurada em MARIA, a fim de que uma Virgem apagasse e abolisse pela Sua
obediência virginal a desobediência de uma virgem.“ (Ir. Demonstr.
Apost. Praed., Vers. Weber, pg. 59-60).
O mesmo pensamento, em torno de MARIA, a Nova EVA, é
admiravelmente exposto, pelo grande Santo Efrem, quando afirma:
“O Anjo desceu dos Céus e falou à Virgem Santíssima: começou-se a
tratar da reconciliação, encaminhou-se o tratado de paz. Em vez da serpente
apresentou-se Gabriel, e em vez de Eva, a Virgem MARIA. Com as palavras que
dirigiu a MARIA, Gabriel desfez as palavras que o execrável homicida dirigiu à
virgem Eva. Eva assinou a escritura da dívida, a Santíssima Virgem pagou a
dívida. Eva tinha caído, MARIA Santíssima levantou-a de novo.” (Ephr. Lamy. 3, 976-978).
São João Damasceno, o grande devoto e apóstolo das imagens dos
santos e da Virgem Santíssima, exprime idêntico pensamento, dizendo:
“Eva tornou-se culpável de prevaricação e por ela entrou a morte
no mundo; MARIA santíssima, dando o Seu consentimento, e sujeitando-se à
vontade de DEUS, esmagou a serpente enganadora.” (Damasc. M.G. 96,671)
A mesma doutrina ensinavam os grandes doutores São Jerônimo e
Santo Agostinho. São Jerônimo escreveu:
“A morte por Eva, a vida por MARIA.” (Hier. M. L. 22, 408)
Santo Agostinho: “Por uma mulher a morte, por uma
mulher a vida.” (Ang. M.L. 38, 1108)
Mas ninguém mais ternamente exprimiu este pensamento do que o
devotíssimo da Santíssima Virgem, São Bernardo:
“Ouvistes, ó Virgem, o Anjo aguarda a Vossa resposta; nós também
esperamos. O preço de nossa salvação está nas vossas mãos: se consentis,
seremos salvos. Eis que o mundo inteiro, prostrado a vossos pés, de vós espera.
Das vossas palavras está pendente a salvação de todos os filhos de Adão.” (Bern. M.L. 183, 83-84).
Pelo que acabamos de ler, vemos claramente que os santos padres ensinam
que MARIA Santíssima, por Seu livre consentimento à Encarnação do VERBO Eterno,
reparou o mal que Eva nos causara; por intermédio de MARIA nos veio a salvação.
Preciosíssima é a doutrina do Papa Leão XIII sobre a Anunciação,
expressa na Encíclica “Octobri mense”, de 22 de setembro de 1891: “Querendo o
Filho do Eterno PAI, para a Redenção e honra do homem, vestir a sua natureza e
contrair com o gênero humano místicos esponsórios, não pôs em obra os Seus
desígnios senão depois de ter obtido o pleno e livre consentimento d’Aquela que
havia escolhido para MÃE e que representava, em certo modo o gênero humano,
conforme a luminosa e acertadíssima sentença do Doutor Angélico: “No
dia da Anunciação era esperado o consentimento da Santíssima Virgem em lugar de
toda a natureza humana”. De onde se pode, com não menos verdade e
exatidão, afirmar que nada desses tesouros de infinitas graças que o SENHOR os
trouxe, pois que a Verdade e a Graça vem de JESUS CRISTO, nos foi comunicado
senão por MARIA. E deste modo, como ninguém pode ir ao PAI senão
pelo FILHO, assim também, quase de igual modo, ninguém pode ir a JESUS CRISTO,
senão por Sua MÃE.”
A mesma doutrina sabiamente destaca-a Leão XIII na Encíclica
“Fidentem piwnque”, de 20 de setembro de 1896:
“Esta dignidade (de Medianeira) cabe, em grau muito elevado, à
Santíssima Virgem, pois só ELA cooperou na reconciliação do gênero humano como
mais ninguém. E esta cooperação inefável está contida, essencialmente, em Seu
consentimento, Sua prontidão de pequena serva confiante na Obra Divina, em Seu
Admirável “Fiat”: “Faça-se em MIM.””
O pensamento claro do grande Pontífice Leão XIII é o seguinte:
DEUS, fazendo depender do consentimento da Virgem a Obra da Redenção,
manifestou a disposição de Sua Vontade de por nas mãos de MARIA Santíssima todo
o tesouro das Graças que JESUS nos veio trazer.
Na Encíclica “Octobri mense”, de 22 de setembro de 1891, continua
Leão XIII:
“O Pai Celestial comunicou a MARIA Santíssima sentimentos
profundamente maternos, que não respiram outra coisa senão amor perdão. Aos
cuidados e solicitude de MARIA recomenda JESUS, do alto da Cruz, todo o gênero
humano, em Seu discípulo João.
MARIA entrega-se aos filhos como MÃE, e como herança do FILHO, a
morrer em meio a imensos sofrimentos, começa, com grande empenho, a empreender
o Ofício Materno. Foi este o Desígnio de DEUS com MARIA, aprovado pelo
Testamento de CRISTO. Desde o começo, os santos Apóstolos e os primeiros fiéis
lhe experimentaram a doçura. Experimentaram-na e ensinaram-na os Padres da
Igreja e, em todas as épocas foi aceita por unânime consenso dos povos cristãos.
Mesmo se a Tradição se calasse e se os Escritos faltassem,
romperia uma voz de todos os peitos cristãos e clamaria com eloquência suprema.
Não é outra coisa do que fé divina
que, por um impulso fortíssimo, nos leva e arrebata com infinita suavidade para
MARIA. Nada mais antigo e mais grato que confiar em Sua proteção, em Sua
fidelidade, entregando-Lhe tudo o que é nosso: preces e anseios, de modo que,
por mais confiante que seja nossa fé em DEUS, o que LHE for exposto por nós,
indignos, logo se torna caro e aceito, se for recomendado por Sua MÃE
Santíssima.
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