NOSSA SENHORA DO VALE DE CATAMARCA
Nossa Senhora do Vale (Vale de Catamarca - Argentina)
(1630) Em 1586, o governador de Tucumã, Juan Ramirez de Velasco, resolveu
penetrar no vale de Calchaqui e quis que o acompanhasse o venerável Pe. Alonso
de Bárcena, apóstolo jesuíta, para que anunciasse as verdades evangélicas aos
indígenas que habitam aquela zona. No espaço de cinco meses e meio, depois de
haver percorrido 400 léguas, o exército espanhol conseguiu apossar-se do vale,
e os índios, admirados da grandiosidade da empresa, prestaram vassalagem aos
estrangeiros. Para assegurar o domínio desse território, o governador reuniu
setenta famílias espanholas de diversas cidades e quatrocentos índios fiéis, e,
em 20 de maio de 1591, deu princípio à cidade que chamou Todos os Santos de
Nova Rioja. Para que pudessem se comunicar com segurança com Santiago do
Estero, sede do Governo, dom Juan Ramirez de Velasco mandou construir no Vale
de Catamarca um forte que facilitasse a defesa. Ao seu redor formaram-se
fazendas ou propriedades cujos donos as cultivavam por meio de índios dóceis e
submissos. Enquanto assim se governavam os espanhóis, os índios cristãos do vale,
do povoado de Choya, frequentavam em segredo uma gruta ou caverna rodeada de
penhascos, onde se achava uma imagem da Rainha do Universo representada no
mistério de sua Imaculada Conceição. Festejavam-na acendendo fogueiras,
bailando e fazendo demonstrações de regozijo em sua presença. Em 1630, estando
em paz todo o vale de Catamarca, um índio, a serviço de Manuel de Salazar, viu,
uma noite, que outros índios levavam às escondidas um candeeiro e se dirigiam
para o mato, subindo uma ladeira. No dia seguinte, observando suas pegadas, deu
com a santa imagem e correu a avisar seu amo. Este, apesar dos vivos protestos
dos nativos, levou-a de Choya para Vale Viejo, depositando-a em sua casa.
Várias conjecturas foram feitas acerca da origem da imagem: uns pensaram que
talvez tenha sido levada por São Francisco Solano, que pregara em Tucumã
durante oito anos. Outros, talvez, com mais fundamento, a atribuem aos jesuítas
que evangelizaram Catamarca entre 1630 e 1632. Só uma testemunha declarou no
processo ter ouvido dizer que seus antepassados afirmavam que a imagem tinha
vindo do Peru. Nossa Senhora manifestou logo, por um milagre, que não era de
sua vontade receber culto em uma casa particular, mas que desejava favorecer,
com sua bondade, os índios e a todos os desgraçados, pois aconteceu que a
portentosa imagem desapareceu várias vezes da casa de Manuel de Salazar,
voltando para o lugar onde tinha sido encontrada. Construíram, portanto, uma
capela onde a imagem esteve durante muitos anos. Nossa Senhora do Vale começou
a favorecer visivelmente seus filhos do Vale de Catamarca por ocasião do
primeiro levante dos índios calchaquíes, que ocasionaram uma guerra de muitos
anos, em que correram rios de sangue. Esta guerra fora motivada por uma
imprudência do governador de Tucumã, dom Felipe de Albornoz. Só por uma graça
especial de Nossa Senhora do Vale os poucos espanhóis não foram derrotados,
visto o número muito maior dos contrários que havia no combate. É digno de
notar o que sucedeu aos habitantes do Vale Viejo: um destacamento de índios
rodeou a cidade com o intento de assaltá-la, numa ocasião em que ali se achavam
mulheres e crianças. No entanto, foi-lhes ao encontro a Santíssima Virgem:
formou-se um formidável temporal, que pôs os índios em precipitada fuga,
livrando os atribulados habitantes do iminente perigo. Os próprios índios confessaram
depois que, quando assaltavam o Vale Viejo, viram nos ares a Rainha do Céu, que
despedia de si lanças de fogo, com as quais aniquilou seu malvado projeto. Com
este feito, a a Virgem anunciava que seria a defensora e o amparo da província
de Tucumã, e especialmente do “seu vale”. Apenas sufocado o primeiro levante
dos índios calchaquíes, puseram-se eles novamente em armas contra os
conquistadores, sublevados pela astúcia e traição do aliciador Pedro Chamijo,
que, enganando o governador, levantou contra ele e seu povo esses índios. O
governador conheceu, enfim, que tinha sido enganado, mas era demasiado tarde.
Só Deus sabe os males que teria ocasionado este segundo levante, se não
tivessem sido novamente favorecidos de modo milagroso por sua protetora Nossa
Senhora do Vale. As testemunhas do processo afirmam que a Virgem do Vale
aparecia nos ares aos índios e lhes infundia tanto medo e espanto que os
obrigava a debandar como derrotados, dando a vitória aos espanhóis. Assim o
confessavam os próprios índios levados prisioneiros para o Vale de Catamarca.
Ao ver a santa imagem, diziam: “Esta é a que nos venceu nos combates: esta
Senhora é que nos amedrontava e defendia os espanhóis”. Em 1681, dom Fernando
de Mendoza Mate de Luna teve a glória de fundar a cidade de São Francisco do
Vale de Catamarca. Em 1688, Nossa Senhora do Vale foi declarada patrona da
cidade, para onde foi transportada, a fim de estabelecer ali o trono de suas
bondades, sendo a protetora de toda a província. Em 1886, foi ratificado o reconhecimento
de Nossa Senhora do Vale como padroeira da cidade e província de Catamarca, e
em 1891 foi solenemente coroada diante de 30 mil romeiros.
Em Araraquara/SP existe a Paróquia Nossa Senhora do Vale, cuja imagem, apesar de parecida, não é igual à do Vale de Catamarca, na Argentina.
Nossa Senhora de Catamarca, dai-nos sabedoria e prudência para agirmos sempre segundos os desígnios de Deus e sob vossa poderosa intercessão.
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